19:30 horas, é aquele tal horário de levar o cachorro para seu encardido passeio: xixi nos arbustos, latidos insultuosos para a cachorrada da vizinhança (e isso porque estão todos presos), o desespero exasperante do pequeno "Rick Ricardo", resfolegando enquanto, no stresse de seu pequeno trajeto quase arrebenta a coleira no afã de ir, ir, ir...
Olho o céu e lá está aquela coisa mais doida: a lua minguante... O sorriso escrachado na cara da noite... Parece o gato Risonho da Alice (aquela do país das maravilhas do Lewis Carroll)... Nessa hora o silêncio brota na mente e surge, urgente e abrangente, meu próprio sorriso... Parece mais uma retribuição do sorriso que vejo no céu, daquele jeitão que a gente costuma retribuir os sorrisos que nos endereçam... E, enquanto o Rick se esgoela, late, se joga pra frente, num quase suicidio canino, minha dimensão retroage: fica o cão na atualidade e eu, corpo presente, deixo que o espírito percorra velhos caminhos, viajando na brisa do inicio da noite. O momento me tras o eco das gargalhadas, dos sussuros da meninada sentada de qualquer maneira na sarjeta, em frente ao portão de minha antiga casa, alguns displicentemente deitados no asfalto, os pés descalços, os olhos brilhantes olhando aquele safado sorriso tatuado na imensidão azul escura e estrelada... E é assim o pequeno passeio dos dias da malandra minguante, quando dou por mim já estou no portão de casa, a caminhada acabada, finita... Aí me arrastando porta adentro, de encontro à minha cálida maturidade, deixando essas lembranças perfumadas e coloridas a escorrer pelo muro feito água de chuva... Mas não sem antes dar aquela piscadela básica, de camaradagem de longa data, àquela fatia de sorriso pendurada no espaço.
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