Decididamente, não estou mais no primário e já vai longe pra caramba minha cara espinhenta de adolescente...
Mas como é que eu ia resistir a esse all star, tão básico, tão vermelho, tão "meu passado foi ontem"?
Não deu outra, lá estou eu com ele nos pés, pulando no quintal, como se o simples ato de usar o tênis pudesse me levar por caminhos de retornos que já não tenho.
Mas isso não é o que se pode chamar de "a parte pior"...
A parte pior mesmo foi ouvir minha filha adolescente nata e completa, perguntando como quem não se toca (e essa é a forma que mais fere!) - o que eu estava fazendo com um tênis vermelho se nem uso jeans?
E não é que eu não sabia? Me quedei de amores por aquele all star em sua vermelhitude de tardes ao léu, aquela mensagem de "dolce far niente" incrustrada nas imagens de sábados de sol, piscinas azuladas de um povo sorridente...
Cheguei até a pensar em enquadrá-lo assim tipo um troféu, pendurar na parede com uma inscriçãozinha sacana por baixo, mais ou menos como "para quando eu desejar caminhar pelos ontens"...
E vou te contar, só pra você não dizer depois que não sabia: meu hoje vale cada momento do meu ontem, mas de vez em quando, só de vez em quando, pinta uma saudade muito minha da pessoinha que fui.
É nesses raros momentos que me atrevo além da conta e acabo com um all star novinho, vermelhinho, assentado, quieto e lindo, nos fundos do guarda roupas, feito uma ode, feito uma janela de memórias bonitas que fizeram de mim quem sou. Portanto, viva meu all star vermelho, de cadarço vermelho, de carinha linda, feito primeiro sorriso de bebê gordinho, margarida branca num momento de chuva.
Bendito all star, contador de histórias, portador de cheiros, sons e gargalhadas, por suas lonas que o tempo gastou desfilaram tantos prazeres, tantos para sempre amores infinitos, e foram tantos os caminhos percorridos...
E tu, ó All Star dos meus pecados, sem amortecedores, sem acolchoamento, sem lenço e sem documento, tú foste o grande amor das minhas ruas todas, das minhas estradas nuas...
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