Este local é, com certeza, dedicado aos 90% do meu cérebro que não tenho certeza de para que servem... Entre um cigarro e outro, entre o dia e a noite, nas beiradas de um talvez qualquer, fico gastando palavras, me espreguiçando nas frases, me escondendo entre as reticências...
Ao leitor deixo o agradecimento pelas palavras que eu não disse, mas que, ainda assim, acabaram por ser ouvidas...


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Espelho da fama

Não sem motivo, disparou-se um gatilho e antigas portas rangentes se abriram. Percebi que não tatuei os meus pézinhos nas calçadas da fama, só perfurei corações com os lindos saltos de meus Czarinas... Fotografei com meus olhos de sombras negras e cintilantes os cabelos esvoaçantes e longos, os sorrisos prateados da ingenuidade, as nuances cálidas do Dolce & Gabbana na pele dourada... Gravei nos ouvidos desavisados todos os risos inquietos e as gargalhadas cristalinas, os sussurros pungentes e a intelectualidade conturbada... Percebi na juventude boêmia o brotar dos talentos meus e alheios, o nascimento espontâneo das emoções e a morte lenta dos muitos projetos inviáveis... Risquei peles com minhas unhas tingidas de amor perolado e permiti a minhas pernas esbeltas todos os ritmos... Amores eternos e vãos, piu bella cosa!!! Na boca um nada básico batonzinho payot, roxo Miosótis ou rosa Vin Broulé, escondendo minha língua de arsênico com a qual eu destilava veneno nas bocas alheias... Fui o adágio de Albinoni e o poco allegreto de Brahms. Fui daikiri e guaraná antartica, toblerone e minguante, margarida branca no quintal... Fui pedacinhos de cada um e muito de mim mesma... Inventei um irreverente espelho da fama, e o pendurei atrás das antigas portas rangentes. E é para ele, esse espelho todo magia, que envio uma beijoka soprada, no melhor estilo "vapor barato", antes de tornar a fechar, com suavidade, as passagens para os meus ontens...
Há toda uma doçura murmurada nas lembranças bonitas que armazenei nos cômodos silenciosos de meu espírito indigente. Os impagáveis personagens dessas épocas passadas repousam sob uma camada dourada de poeira e a prudência me pede que lá permaneçam. Não esquecidos, não obsoletos, não desprezados, mas adormecidos em seus momentos, eternizados em suas épocas, estátuas erigidas para suas próprias honras, flores de um jardim que visito ocasionalmente, para me lembrar quem sou...

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